Sunday, September 25, 2011

Pelo andar da carruagem...

Pelo andar da carruagem… a carruagem parou. Já lá vão uns tempos valentes. As causas apontadas foram as mais diversas, segundo disseram. Ora a neve a bloquear os carris (esteve muito na moda no Inverno passado), ora a subida do preço do carvão (para quem não sabe, esta locomotiva ainda toca a vapor), ora a interrupção da ligação que fazia (a chegada anunciada do TGV condenou as locomotivas ao desuso e à obsolescência). Bem, ninguém sabe ao certo, mas o que é certo é que parou.

A locomotiva continuou sem ela. A vida não pára, não é? E também não espera. Portanto lá continuou, deixando empanada a pobre da carruagem. Era vê-la ali no meio do nada, a tiritar de frio, abraçada a si, ervas daninhas a crescer pelas rodas e a trepar pela cabine. Passaram-se três Primaveras, três Verões, dois Outonos e dois Invernos e a pobre… ali.

No fundo, todos sabiam que o que ela precisava era que a locomotiva caísse em si e viesse chamá-la de novo para a roda. Viesse buscá-la para dançar. Soubera ela (a locomotiva) antes que a varinha estava do seu lado e já teria ido mais cedo. Mas a pobre é fraca a ler sinais… Mas, ainda que tarde, lá deu vida ao gira-discos, lá pôs a vida (ai, a música) a tocar. A carruagem, meio tímida, quis contagiar-se pela música, e, pouco a pouco, começou a abanar(-se) – primeiro a ré, depois a proa, as rodas foram, uma a uma, rasgando as ervas daninhas que as acorrentavam, tudo devagarinho, muito devagarinho, (para não chamar muito a atenção…).

Enfim. Ela só precisa de tempo. Só que nos tempos que correm ela anda marafada com ele. «Malfadado do Tempo, tece tudo e todos! Faz gatosapato da vida e não dá os ponteiros a torcer (seus minutos, horas, dias, meses, anos a multiplicar…)!»

Mas é assim o tempo. É assim a vida. E assim seguirão sendo.

(Pelo andar da carruagem…)