A vista do Monte Molião
Subiu a custo aquele monte salvo pelos achados arqueológicos de outro tempo. Já não era miúdo. Quando chegou ao topo olhou em volta, ainda havia tempo antes de começar. Sentou-se naquele rochedo com o miúdo ao lado e ficou a observar enquanto as máquinas pesadas, agressivas, violentas se aproximavam com tudo menos boas intenções. O miúdo olhava sem perceber muito bem o que se passava. E ele começou a contar…
– Quando era pequenino, assim, quase do teu tamanho, eu, o Tio Frederico, o Tio Miguel e o Tio Kiki fazíamos muitas travessuras na Quinta. Éramos terríveis! Bem, o Tio Miguel e o Tio Kiki eram piores, mas quando nos juntávamos os quatro, o pobre do João Borralho não tinha sossego.
Ele ria-se. O filho também.
– Mas o pior de todos, o pior de todos! Adivinha lá quem era!
– O Tio Kiki!, dizia o miúdo.
– Com aqueles óculos de fundo de garrafa, aquele ar meio encolhido, o mais pequenino de todos, era é um belo sonso! E nessa vez, estávamos em casa, todos em sentido. Avizinhava-se uma tarde pacífica, sem confusão, quando o Tio Kiki chegou à sala ao pé de nós e nos disse: “Aí! Nem sabem! Vão deitar abaixo a casa do João Borralho!”. A casa do João Borralho não era a casa em que ele vivia, mas era onde ele guardava os sacos de farinha, de batatas, os cestos, as hortaliças, os caixotes e toda a tralha e mais alguma. Estava sempre empoeirada, cheirava a mofo! E nós chamávamos-lhe a casa do João Borralho.
E depois o Tio Kiki continuou, ele era assim (ainda é!), sempre cheio de ideias… “Sabem o que é que podíamos fazer?! Podíamos ajudá-los! ‘Bora atirar pedras ao telhado! Assim é mais rápido!” E nós que queríamos é brincadeira fomos todos atrás. Todos contentes da vida! Pegámos naqueles pedregulhos e começámos a atirar ao telhado e a partir as telhas! Todos às gargalhadas! Ninguém deu por nós… Nem os nossos Pais, nem os Avós, nem o pobre do João Borralho…
E disse o miúdo sorrindo…
– Asneeeeeiraaaaa…
– Grande asneira! É claro que o João Borralho não tardou a descobrir a travessura, correu logo a contar à Avó Graça, e enquanto a Avó Graça se arranjava com o senhor e pagava as telhas destruídas, nós arranjávamo-nos com os nossos Pais! E que arranjo! O quarteto todo de castigo! E a culpa foi do Tio Kiki! Já nem me lembro que castigo foi… Mas de certeza que foi duro!
O miúdo ria, ria…
E ele suspirava enquanto olhava em frente para as máquinas cada vez mais ameaçadoras, destrutivas… Coitado do João Borralho..., pensava.
– Oh Pai… Mas se vocês partiram as telhas do João Borralho e ficaram de castigo, aqueles homens das máquinas que estão a partir a Quinta também vão ficar…?
– Quando era pequenino, assim, quase do teu tamanho, eu, o Tio Frederico, o Tio Miguel e o Tio Kiki fazíamos muitas travessuras na Quinta. Éramos terríveis! Bem, o Tio Miguel e o Tio Kiki eram piores, mas quando nos juntávamos os quatro, o pobre do João Borralho não tinha sossego.
Ele ria-se. O filho também.
– Mas o pior de todos, o pior de todos! Adivinha lá quem era!
– O Tio Kiki!, dizia o miúdo.
– Com aqueles óculos de fundo de garrafa, aquele ar meio encolhido, o mais pequenino de todos, era é um belo sonso! E nessa vez, estávamos em casa, todos em sentido. Avizinhava-se uma tarde pacífica, sem confusão, quando o Tio Kiki chegou à sala ao pé de nós e nos disse: “Aí! Nem sabem! Vão deitar abaixo a casa do João Borralho!”. A casa do João Borralho não era a casa em que ele vivia, mas era onde ele guardava os sacos de farinha, de batatas, os cestos, as hortaliças, os caixotes e toda a tralha e mais alguma. Estava sempre empoeirada, cheirava a mofo! E nós chamávamos-lhe a casa do João Borralho.
E depois o Tio Kiki continuou, ele era assim (ainda é!), sempre cheio de ideias… “Sabem o que é que podíamos fazer?! Podíamos ajudá-los! ‘Bora atirar pedras ao telhado! Assim é mais rápido!” E nós que queríamos é brincadeira fomos todos atrás. Todos contentes da vida! Pegámos naqueles pedregulhos e começámos a atirar ao telhado e a partir as telhas! Todos às gargalhadas! Ninguém deu por nós… Nem os nossos Pais, nem os Avós, nem o pobre do João Borralho…
E disse o miúdo sorrindo…
– Asneeeeeiraaaaa…
– Grande asneira! É claro que o João Borralho não tardou a descobrir a travessura, correu logo a contar à Avó Graça, e enquanto a Avó Graça se arranjava com o senhor e pagava as telhas destruídas, nós arranjávamo-nos com os nossos Pais! E que arranjo! O quarteto todo de castigo! E a culpa foi do Tio Kiki! Já nem me lembro que castigo foi… Mas de certeza que foi duro!
O miúdo ria, ria…
E ele suspirava enquanto olhava em frente para as máquinas cada vez mais ameaçadoras, destrutivas… Coitado do João Borralho..., pensava.
– Oh Pai… Mas se vocês partiram as telhas do João Borralho e ficaram de castigo, aqueles homens das máquinas que estão a partir a Quinta também vão ficar…?
Ele olhou o filho e afagou-lhe os cabelos, com um aperto na garganta, um encolher de ombros, e mais uma vez, sem resposta. Depois abriu a sua cerveja e virou-se na rocha servida de assento. O Esperança estava mesmo a começar.
2 Comments:
Olha,,,
,,,nem sei bem o que dizer, mas vou guardar não vás tu apaga-lo e eu não mais me poder deliciar com isto. Não sei se já alguma vez te disse que sou fan dos teus escritos?
São uma doce recordação as travessuras de garotos...já estabelecer um paralelo com as "travessuras" que se fazem no nosso pa'is, é puro lirismo...
Gostei, muito!! E vou guardar, como o "nosso" amigo...
Bj
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