Hoje o Mar estava bravo…
O Levante acomodou-se na Meia-Praia. Trouxe do mar as suas conchas e algas, uma bandeira encarnada hasteada, banheiros atentos, ondas rebeldes, correntes teimosas, uma água amena, e um vento húmido, um bocadinho frio, mas ideal para pôr as ideias a andar à vela. Trouxe também uma praia mais vazia, o que em Julho é sempre bom. Um passeio a três à beira-mar, a espuma das ondas nos pés e uma boa troca de truques (brincadeiras de praia), cumplicidades e segredos.
Quase parece que não falta mais nada. Nem o sol que se abrigou lá nas traseiras do céu nublado. Nem uma qualquer bebida fresca para matar a sede. Nem um pareo que nos embrulhe e afaste o friozinho. Quase parece que não falta mais nada.
Mas falta.
A pequenina força daquelas mãos miúdas puxam-me para a água. «Mas eu tenho frio», digo. «Não tens… Vamos Gaga!», diz-me o Tomás. Ficaram para trás os tempos em que eu era destemida...
Ficaram lá para trás, no meio das aventuras pelo Molião… Subia de árvore em árvore, descia poços onde o fundo se perdia no escuro, pulava muros, inventava mil e uma tropelias, não tinha medo de me sujar, corria atrás dos animais e até pegava naqueles que hoje me arrepiam (o Tio Luís chamava-me a “Mata-Aranhas” e eu achava que a alcunha era sinónimo de coragem).
Quase parece que não falta mais nada. Nem o sol que se abrigou lá nas traseiras do céu nublado. Nem uma qualquer bebida fresca para matar a sede. Nem um pareo que nos embrulhe e afaste o friozinho. Quase parece que não falta mais nada.
Mas falta.
A pequenina força daquelas mãos miúdas puxam-me para a água. «Mas eu tenho frio», digo. «Não tens… Vamos Gaga!», diz-me o Tomás. Ficaram para trás os tempos em que eu era destemida...
Ficaram lá para trás, no meio das aventuras pelo Molião… Subia de árvore em árvore, descia poços onde o fundo se perdia no escuro, pulava muros, inventava mil e uma tropelias, não tinha medo de me sujar, corria atrás dos animais e até pegava naqueles que hoje me arrepiam (o Tio Luís chamava-me a “Mata-Aranhas” e eu achava que a alcunha era sinónimo de coragem).
Quando chegava à praia fazia parte do mar.
Digo-lhe, ao Tomás, que vou com a condição de não me molhar acima da cintura. «É que eu tenho muito frio», volto a dizer. E volto a ouvir: «Vamos Gaga!» Ficaram para trás os tempos em que eu era destemida...
Convenço o pequenino, mas as ondas não se deixam levar. Mais um bocadinho e já estou no meios das vagas, a minha mão na mãozinha do Tomás em cada investida, desafiando juntos aquele mar que deu o encarnado à bandeira. Por momentos, ganho de novo a sua idade. Ora emirjo, ora salto, os pés para um lado, os braços para o outro, cabelo desalinhado, outro mergulho, outra onda... Discretos ensaios de euforia…
E a espuma das ondas na cara (sempre gostei de me sentar na água em dias de Levante e esperar que as ondas se desfizessem em espuma na minha cara). Que refresco! «Tens frio, Tomás?», pergunto. «Eu não!», diz logo. E eu rio-me com ele (reguila!), recordando-me quando era eu que escondia o tiritar dos dentes.
São duas da tarde e dizem que há umas sardinhas à nossa espera na lota. Peço ao mar que me guarde algures neste Verão outro banho assim. Talvez em Setembro (não há Meia-Praia como a de Setembro…) Foi bom. Saio, abraço a minha toalha, e sinto-me bem com cheiro a sal. Quase parece que não falta mais nada.
Mas falta.
Aceno ao mar bravo já longe e digo “até logo” à praia. Levo de volta na cabeça aquilo que nela se passeava quando lá cheguei. O que falta.