Sunday, December 02, 2007

Contrato de Bignorâncias

Precisamos de alguém a quem fazer perguntas estúpidas. É verdade! Precisamos.
Alguém que não nos faça sentir o ser mais ignorante que Deus pôs no Mundo quando temos que desfazer, cortar ou esquecer aquele incomodativo nózinho que nos mói a cabeça, martela baixinho, puxa os cabelos e, pura e simplesmente, nos DÁ CABO DO SISTEMA NERVOSO...! Como aquela torneira antiga, pintada de calcário, seca, mas que teima em ser torneira e como torneira manter-se no activo e que por isso passa horas inteiras de dias e noites a fio, gritando a sua condição de torneira: "Ploc...! Ploc...! Ploc...! PLOC!!!!!!"
Então, como dizia, precisamos sempre de alguém a quem fazer as perguntas estúpidas e básicas que - desenganem-se! - todos temos. Convém é ser só uma pessoa, duas, não mais do que três, porque espalhar por aí o leque de perguntas "dois-mais-dois-igual-a-quanto-mesmo-pontodeinterrogação" é capaz de generalizar pelo povo, pôr na boca do mundo, uma imagem que não queremos de todo passar.
Às vezes nem é uma pergunta "cheia" ou "completa", não é totalmente uma pergunta. Às vezes é só uma duvidazinha ligeira que nos sopra ao ouvido e nos separa do clic do "Ah, já sei!". Mas sabemos que esse clic é básico, óbvio, de senso comum, que toda a gente sabe. Menos nós. Ou se calhar sabemos mas não temos bem, bem a certeza. E é uma chatice não ter bem-bem a certeza.
E é por isso mesmo que precisamos a nosso lado daquela pessoa de confiança com quem estamos à vontade para corar, gaguejar, meter o pézinho na poça, tropeçar, passar por tontinhos de vez em quando, e por aí. Quanto mais não seja, porque o contrato é bilateral, a faca tem dois gumes, a corda duas pontas, e essa pessoa também tem com toda a certeza o seu molhinho de perguntas absurdas.
"Contrato de Bignorâncias", chamemos-lhe assim. É um fifty-fifty de fiascos de raciocínio ocasionais, uma aconchegante cumplicidade na nossa percepção de seres humanos a anos-luz de calcar todas as léguas do conhecimento. Ou seja, animais que não sabem tudo.
Posto isto, um bem-haja a essa pessoa que cada um de nós tem sempre à mãozinha e que nos dá um bocadinho de lume quando somos assaltados pelas absurdas interrogações do Óbvio. Que toda a mão-cheia de perguntas estúpidas fiquem sempre só entre nós!
Já agora e antes de me ir embora, mas porque é que neste mundo, a Água e o Azeite não há meio de se misturarem...?!

1 Comments:

Blogger Fátima Santos said...

Este vai direitinho (sem sua licença) para o meu TESOUROS! :)

9:40 AM  

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