Wednesday, January 16, 2008

Vou num comboio e vou à chuva...

Queria um comboio... Numa linha bem comprida, em que a estação terminal não se avistasse no mais fundo dos horizontes. Queria um lugarzinho à janela, um cachecol quentinho, uns bolsos largos. O cabelo apanhado, a cara fresca, a ponta do nariz fria. Podia chover lá fora, não me importava. Pelo contrário. A água chorando pela janela ia embalar os meus pensamentos. Que precisam de tempo, de espaço, de vento, de movimento…
Queria silêncio nessa viagem. Queria companhia também. Mas em silêncio. Conversar na cumplicidade do silêncio.
Queria pôr as ideias em ordem. Talvez o galopar do comboio as pusesse em sentido. Não sei.
Às vezes sinto-me cansada. Desta esgrima constante para que o optimismo vingue a toda a hora. Queria esse comboio a esvoaçar pela chuva para descansar. Para pousar a espada. Sair de dentro de mim durante um bocadinho.
Queria adormecer e desligar por uns tempos. Talvez seja só cansaço, talvez uma boa noite de sono sem nós complicados e emaranhados a espicaçá-la seja o equivalente a essa viagem de comboio.
Mas as noites ultimamente têm sapateado. Têm querido a companhia do meu olhar desperto. Ou do meu pensamento.
Vai ficar tudo bem, isso eu sei”… Talvez falte apenas alguém que me cante isto ao ouvido. Alguém que com a sua voz me dê a mão, me beije a testa, me toque levemente nos cabelos. Alguém que me faça sentir confiança para fechar os olhos e saltar ao pé-coxinho ao mesmo tempo.
Será sempre uma criança, que em sonhos dança… Dança…”. E se já estiver na altura de deixar de ser criança? Será que dá para dançar?
Sim.
Mas às vezes não sei.
Quero fazer com que o tempo pare durante essa viagem de comboio para acreditar que sim, que dá para seguir a vida a dançar. Alheia a sopros fortes de outras almas inquietas. Alheia aos caminhos por onde se passeia o Lobo Mau.

Quero um comboio, uma linha bem comprida e um lugar à janela num dia cinzento soltando chuva.
Quero também tocar na chuva. Estender os braços. Não ter medo de ficar molhada.
Quero silêncio. Mas também quero gritar.
Quero dormir. Mas também quero dançar.
Sei o que quero. Não sei o que quero.
Sei o que tenho. Não sei o que tenho.
Sei o que sou. Não sei o que sou.
Será que sou?

3 Comments:

Blogger Fátima Santos said...

:)

11:01 PM  
Blogger Inês said...

Queria um comboio na Alemanha, queria voltar a acordar de madrugada para me enfiar numa carruagem cheia de alemães me twilight zone, com um casaco quente e um gorro que teimava em perder! Descobri que continuas a escrever aqui Grace e fiquei mesmo contente!Ainda me lembro de nos mostrares o primeiro texto!!Beijinhos***

12:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

Este blog tem uma viagem de comboio bem bonita. Eu tenho um neto que disse umas coisas sobre sobre ilustrações. Que tal um encontro no meu quintal? Que tal um telefonema para combinar? Que tal ler a sombra-laranja-tigre? Beijinhos. Edite.

9:15 AM  

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